Jovens aprendem sobre higiene menstrual e saúde sexual e reprodutiva
A sensibilização sobre higiene menstrual e saúde sexual e reprodutiva chegou à Lunda Sul e a mais quatro Províncias de Angola. Benguela, Cuanza Sul, Moxico e Lunda Sul. Nesta última Província entre 15 e 25 de Setembro, 23 meninas de Saurimo receberam calcinhas de menstruação reutilizáveis e relógios menstruais, e mais de 100 jovens participaram em palestras sobre o tema. O UNFPA Angola e a associação local, Mwana Pwo, organizaram os eventos.
A cara de felicidade de Vanuzia Paulo diz tudo. Com 14 anos, a estudante da sétima classe sabe não haver nada melhor do que ter acesso a informações básicas que podem mudar a sua vida. “Participei na actividade sobre gestão menstrual, onde aprendi muitas coisas. No dia 10 deste mês, comecei a menstruar e consegui utilizar as informações que nos deram sobre o uso das cuecas, do penso higiénico e também do relógio Smart, que utilizo para controlar a minha menstruação”, explica. Vanuzia foi uma das 23 meninas dos bairros Agostinho Neto e Luavur, em Saurimo, que receberam, a 25 de Setembro, calcinhas reutilizáveis e relógios menstruais, num evento organizado pelo UNFPA e a organização Mwana Pwo.
Angola é um país maioritariamente jovem, com 65% da população abaixo dos 25 anos. Existem no país 10 milhões de meninas e mulheres em idade menstrual ou reprodutiva e enquanto 75% das meninas frequentam a escola primária, esta proporção cai para 15,5% na escola secundária, sendo dois dos factores principais de abandono escolar por parte das meninas, a entrada na idade considerada “de mulher” e a falta de acesso a produtos adequados de higiene menstrual. Para a Vanuzia sentir-se empoderada para ficar na escola, as formações de saúde menstrual são essenciais para superar as barreiras sociais, e às vezes as dificuldades criadas pela falta de água e infra-estruturas certas, que as meninas enfrentam quando chegam à idade menstrual.
Dez dias antes da formação, os facilitadores da Mwana Pwo que receberam formação sobre Saúde Menstrual ministrada pelo UNFPA Angola e Be Girl Inc. no âmbito da presente iniciativa, promoveram também uma série de palestras sobre saúde sexual e reprodutiva e Sáude Menstrual, que abriram os horizontes a 72 alunas e 30 alunos da escola do 1.º ciclo Muatxissegue Wa-Tembo.
A informação que recebeu nestas sessões mudou totalmente a perspectiva de Ricardo dos Santos sobre o ciclo menstrual. O jovem de 15 anos entende agora que “a menstruação é um processo normal que ocorre nas mulheres”. Algo tão simples, mas com alto impacto. “Para os rapazes, é importante aprendermos sobre este tema, para apoiarmos as meninas e para nos protegermos também de gravidezes indesejadas”, comenta o estudante da 7.ª classe.
A participação de rapazes neste tipo de formações é “altamente importante”, sublinha Adão Mendes, formador da associação Mwana Pwo. “Estas acções podem ajudar os meninos a apoiar as suas parceiras e a sociedade em geral, no futuro, e também a eliminar a masculinidade tóxica que limita as mulheres às funções do lar e que as coloca em extrema vulnerabilidade económica, sem oportunidades de se empoderarem”.
Esta transformação, acrescenta a formadora Melania Caiva, promoverá “um ambiente confortável para as jovens, onde meninos e meninas se respeitam e aceitam as diferenças de cada um”. A facilitadora que empodera mulheres em questões de saúde sexual e reprodutiva sabe ser um caminho longo. “Aqui na Lunda Sul estes temas ainda são considerados uma vergonha aos olhos de muitos homens, que ensinam às meninas que não se deve falar sobre menstruação”.
Este silêncio contribui também para falta de conhecimento sobre saúde sexual e reprodutiva, em geral. Angola tem a segunda maior taxa de gravidez na adolescência da Região com 163 em cada 1000 entre os 15 e os 19 anos a já terem experimentado uma gravidez. Ao ritmo de crescimento actual de 3,2% ao ano, a população angolana que se estima hoje em 33 milhões de habitantes, terá alcançado os 45 milhões em 2030, mais do dobro em 2050 e o triplo em 2063.
O silêncio traz consequências graves. Melania Caiva refere uma pesquisa da Mwana Pwo sobre gravidez precoce na Lunda Sul, “em que muitas meninas indicaram precisamente a falta de informação como causa da gravidez”. O trabalho agora realizado pelo UNPFA e a associação local “vai ajudá-las a eliminar essas limitações”, acredita. “O mais satisfatório de partilhar ensinamentos sobre o ciclo menstrual e planeamento familiar é observar o sorriso das meninas ao receberem os materiais, como cuecas e pensos reutilizáveis”, testemunha a activista.
Por outro lado, a pandemia da COVID 19 deixou clara a necessidade de produtos e sistemas sustentáveis, quando, mais do que nunca, as cadeias de abastecimento estão interrompidas. O uso pelas adolescentes de produtos laváveis e reutilizáveis é ainda mais relevante, pois são menos dependentes das cadeias de abastecimento.
O UNFPA Angola e os seus Parceiros (Inter)nacionais implementam desde 2020 uma iniciativa de Gestão de Saúde Menstrual, sendo a meta para 2021 a cobertura de 7 das 18 Províncias. A iniciativa prevê através de Workshops educacionais e da distribuição de materiais de gestão da Higiene e Saúde Menstrual, alcançar um total de 6000 adolescentes, meninas e rapazes, com informação sobre saúde sexual e reprodutiva, gestão do ciclo menstrual e a distribuição de produtos de higiene menstrual reutilizável as meninas e aos rapazes, para melhorar os seus conhecimentos e atitudes sobre a menstruação e reprodução.