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Como a tecnologia está melhorando a qualidade dos cuidados de saúde materna nas regiões afetadas pela seca em Angola

HOSPITAL MUNICIPAL DE NAMACUNDE, CUNENE - "É muito gratificante, é um orgulho poder acompanhar uma grávida desde a primeira consulta até ao parto. É muito lindo!" respondeu Leonor Teles Daniel quando lhe perguntaram porque escolheu ser enfermeira.

 


Leonor Teles Daniel, enfermeira emNamacunde, Cunene

Enfermeiras em regiões afetadas pela seca enfrentam sérios obstáculos

Leonor Teles Daniel, enfermeira de profissão, é responsável pela sala de partos do hospital municipal de Namacunde, no Cunene, província de Angola afectada pela seca. Ela é apaixonada pela enfermagem e tem orgulho de pertencer a uma profissão que tem como missão cuidar de gestantes em sala de parto. Tal como a sua colega noutro local bem diferente, Olga Dos Santos, enfermeira do hospital municipal da Humpata, na província da Huíla. Com a mesma paixão pelo trabalho, estas mulheres enfrentam desafios diferentes de outras colegas de outras províncias, devido às disparidades nos resultados de saúde apresentados por localização geográfica em Angola. Por exemplo, os dados do Inquérito de Indicadores Múltiplos e de Saúde (IIMS) entre 2025-2016 mostram que na província de Cabinda, rica em petróleo e água, 82,2% dos partos ocorrem em unidades hospitalares. No entanto, este número cai drasticamente nas regiões mais secas, com apenas 30,4% dos partos na província da Huíla a acontecerem nas unidades sanitárias, e 25,6% na província do Cunene, onde trabalham Leonor e Olga.

Angola é um país vasto e diverso em termos geográficos e culturais sendo o segundo maior país da África subsaariana. De acordo com a Divisão de População da ONU (2022), a população de Angola é atualmente estimada em 35,6 milhões e cerca de dois terços (64%) têm menos de 25 anos. Dada a sua taxa de crescimento da população de 3,0% ao ano, espera-se que o número de habitantes em Angola atinja 44,9 milhões até 2030.

De acordo com o IIMS 2015-2016, a taxa de fecundidade do país é de 6,2 nascidos vivos por mulher e a taxa de mortalidade materna (MMR) é de 239 mortes por 100.000 nascidos vivos. As causas subjacentes à mortalidade materna são os três atrasos clássicos: decidir procurar os serviços das unidades de saúde, chegar às unidades de saúde e receber cuidados obstétricos e neonatais adequados ao nível das unidades de saúde. Além disso, muitas mulheres grávidas que tomam essas decisões são, na verdade, meninas, já que mais de um terço (35%) das meninas de 15 a 19 anos já engravidou, enquanto muitas lutam para acessar informações, produtos e serviços de contracepção.


Leonor e sua equipa.

Tecnologia e Capacitação Para Melhorar o Atendimento e Incentivar o Nascimento em Unidades Hospitalares

Nesse contexto, intervenções que melhorem a qualidade dos serviços, a percepção dos cuidados e as condições dos serviços de saúde são fundamentais para incentivar as mulheres a aderir às consultas de pré-natal e parto nas unidades de saúde. Com esta clara compreensão do que é necessário para melhorar os resultados da saúde em todo o país, o Ministério da Saúde de Angola (MINSA) lançou várias intervenções de fortalecimento de sistemas e melhoria de recursos humanos através do Programa de Fortalecimento do Sistema de Saúde (Programa de Fortalecimento dos Sistemas de Saúde).

 

Leonor Daniel e Olga Dos Santos fazem parte de um grupo de 240 profissionais de saúde que recebem múltiplas formações através do programa PFSS, que associou-se ao UNFPA, através de um financiamento do Banco Mundial, para garantir o reforço dos serviços de saúde sexual e reprodutiva nas zonas afectadas pela seca nas províncias do Cunene, Namibe, Huíla e Cuando Cubango. Este programa incluiu a formação de profissionais de saúde para atender as Emergências Obstétricas e Neonatais, inclusive com novas ferramentas tecnológicas para melhorar a qualidade dos cuidados de saúde, melhorando equipamentos e condições das unidades de saúde. O projecto também formou profissionais com especialidade para atender jovens e adolescentes. O objetivo é fortalecer o sistema de saúde e garantir a qualidade da assistência, para que os partos e as consultas ocorram nas Unidades Hospitalares, melhorando os resultados da saúde materna.

“Antes trabalhávamos sem regras, mas desde o treinamento aprendi a lidar corretamente com a gestante.” Leonor Teles Daniel Enfermeira Hospital Municipal Namacunde - Huíla

No âmbito desta iniciativa, o Governo de Angola em parceria com o UNFPA e a Maternity Foundation, lançou a versão portuguesa do aplicativo Parto Seguro, que vai ajudar enfermeiras e parteiras nos cuidados obstétricos. A introdução do aplicativo Parto Seguro no sul de Angola insere-se no programa de acções prioritárias do MINSA nas quatro províncias para mitigar os efeitos da seca. Leonor e Olga assistiram aos treinos virtuais e, desde então, têm utilizado o aplicativo que inclui vídeos e áudios além de fornecer aos profissionais de saúde informações sobre todas as etapas do parto, especialmente as complicações que podem ocorrer em cada uma dessas etapas.


Olga dos Santos, Enfermeira Hospital Municipal da Humpata, Huíla, ​​​​​tem o Aplicativo
​​​​Parto Seguro no telefone. 

"Tem sido um desafio muito grande: antes das formações promovidas pelo projecto, transferíamos todos os casos de partos complicados para a maternidade central. Hoje, aplicamos o conhecimento que aprendemos quanto aos protocolos nacionais e só transferimos para a Maternidade Irene Neto, os casos realmente que exigem atendimento de maior complexidade.” Olga dos Santos - Enfermeira Hospital Municipal da Humpata - Huíla

 


O Aplicativo Parto Seguro  inclui vídeos e áudios com informações sobre todas as etapas do parto,
especialmente as complicações que podem ocorrer.

 

Após o lançamento do aplicativo, será realizada a capacitação de agentes comunitários e parteiras da zona rural para ajudar as mulheres a superar as barreiras do dialeto local e do idioma para que se sintam seguras em chegar às unidades de saúde mais próximas. Com a institucionalização dos partos, prevê-se que a App Parto Seguro apoie 51.511 partos na província do Cunene, e 54.466 na província da Huíla.

 

O Projecto de Reforço do Sistema de Saúde (PFSS) do Ministério da Saúde de Angola está a trabalhar para melhorar a qualidade dos cuidados e garantir que os partos e consultas decorrem em Unidades Hospitalares. O UNFPA trabalha para criar um mundo em que toda gravidez seja desejada, todo nascimento seja seguro e o potencial de todo jovem seja realizado.

Serviços de saúde sexual e reprodutiva nas zonas afectadas pela seca nas províncias