LOVUA, Angola - Em uma simples tenda branca no assentamento de refugiados de Lóvua em Angola, mulheres e meninas que fugiram do brutal conflito em Kasai, na República Democrática do Congo, podem encontrar refúgio seguro e apoio.
A tenda é um dos dois espaços amigáveis para mulheres que o UNFPA criou no assentamento. Esses espaços oferecem às mulheres e meninas um lugar seguro para conversar, receber informações e participar de actividades recreativas.
"Quando eu participo das actividades aqui, esqueço-me das minhas preocupações e das lembranças do Congo por um tempo", disse Musito, de 17 anos.
Musito é parte dos 35 mil refugiados do Kasai que fugiu para a província de Lunda Norte em Angola.
Fugiu do conflito em abril, quando homens armados chegaram à sua aldeia. "Quando saímos, encontramos cinco corpos decapitados na nossa casa", lembrou.
"Nós fugimos o mais rápido que pudemos, com apenas nossas roupas em nossas costas." Ela chegou à fronteira angolana no mesmo dia, com os seus pais e irmãos.
Violência contra as mulheres
Os horrores que os refugiados experimentaram são extremos. Muitos viram seus familiares mortos, testemunharam decapitações ou mutilações, ou tinham sua propriedade queimada. A violação também foi amplamente reportado.
Mas a vulnerabilidade dos refugiados não termina depois que eles deixam a área do conflito. Os riscos para mulheres e meninas escalam durante crises humanitárias - mesmo em campos de refugiados e assentamentos à medida que as redes de segurança social e os mecanismos de proteção se desintegram.
Os especialistas dizem que houve relatos de violência de genero entre os refugiados em Angola.
"O número de casos de violência sexual e de genero é muito preocupante, e tememos que esta seja apenas a ponta do iceberg, já que muitos casos nunca são relatados", disse Florbela Fernandes, representante do UNFPA em Angola.
"Esta violência compromete a saúde e os direitos das mulheres, e é necessário fortalecer o trabalho preventivo e a capacidade de atender às necessidades dos sobreviventes", acrescentou.
"Neste lugar, há muitas mulheres com muitas preocupações", disse Monique Kapinga, 31, uma das mobilizadoras.
Ela e seus colegas oferecem sessões de informação sobre saúde sexual e reprodutiva e encaminham refugiados para serviços médicos quando necessário. Os mobilizadores também aumentam a conscientização sobre direitos humanos dos refugiados a viverem livres de violência e ajudam a conectar os sobreviventes da violência baseada no gênero aos serviços de apoio.
Existem também actividades educativas e recreativas.
Num sábado recente na tenda, Musito e cerca de 80 outros adolescentes estavam dançando e apresentando cenas. Uma vez por semana, a barraca é dedicada a atividades para adolescentes, um grupo muitas vezes negligenciado em emergências humanitárias.
"Estou feliz em poder participar de algumas actividades. Não há muito a fazer no assentamento ", disse Musito.
"Eu frequento alguns cursos de português", explicou Kiena Odette, de 18 anos. "Além disso, não há muito a fazer aqui".
Aproximadamente 2.000 mulheres e meninas foram atingidas pelos espaços amigáveis para mulheres e esforços de mobilização social em Lóvua.
O UNFPA também está a apoiar o Departamento Provincial de Saúde, no treinamento de enfermeiros e outros profissionais de saúde na abordagem dos sobreviventes de violência sexual e de género e fornecer cuidados de saúde reprodutiva.
Mas é preciso fazer mais
Os respondentes humanitários dizem que estão preocupados com a vulnerabilidade das mulheres e das raparigas à violência e à exploração. Também há preocupações sobre o casamento infantil - que foi generalizado mesmo antes da crise - se tornam um mecanismo de enfrentamento entre famílias cada vez mais vulneráveis.
"Há necessidade de actividades mais dedicadas para os jovens no assentamento, para evitar que os jovens caíam nas drogas ou sexo transacional e para combateros casamentos infantis", disse Fernandes.