O espírito guerreiro de Cláudia Semedo, conselheira do SMS Jovem, que ja registou mais de 60,000 mil Jovens em Angola
Cláudia Simão Semedo é conselheira do centro de respostas do SMS Jovem. A activista social e estudante luta diariamente para garantir o acesso dos adolescentes e jovens angolanos a informação sobre doenças sexualmente transmissíveis, desemprego e outros problemas que lhes afligem. Trabalhadora incansável, a jovem de Viana está determinada em mostrar aos amigos e à família que a sua dedicação e esforço podem mudar o mundo à sua volta.
É em casa que começamos a formar o nosso carácter. Com Cláudia Simão Semedo não foi diferente. A jovem cresceu no seio de uma família humilde, mas “com muita força para crescer na vida com sabedoria”, garante. Em Viana, onde Cláudia Simão Semedo vive, o dia-a-dia exige essa determinação. A 18 km de Luanda, este é o segundo município mais densamente povoado do país, com mais de 1,8 milhões de habitantes, a maioria em situação preocupante de pobreza. Apesar de ser uma das áreas industriais de excelência da região, Viana é um caso sério de falta de infra-estruturas básicas que dificultam a vida da população.
Acreditar que a vida pode dar muito mais foi o que deu garra a Cláudia Simão Semedo. Já antes de ser a conselheira do Call Center do SMS Jovem, sabia que tinha nascido para ajudar. “Desde pequena tinha esta vontade constante de apoiar o próximo sem medir esforços. Por vezes sacrificava-me só para ver os outros felizes e continuo a fazer isso”, garante. Quando, há muitos anos, deu o pontapé de saída da vida como activista no projecto JIRO (Juventude, Informada, Responsável e Organizada), “essa caminhada apenas se intensificou”.
Hoje, Cláudia Simão Semedo está na linha da frente do Call Center do SMS Jovem em Viana. Este serviço de mensagens escritas (do Ministério da Juventude e Desportos, com o apoio do UNFPA e UNICEF) permite a qualquer jovem enviar mensagens de telemóvel para denunciar ou saber mais sobre problemas que os preocupam, como saúde, educação, água, saneamento e higiene, desemprego juvenil, saúde sexual reprodutiva, igualdade de género, COVID 19, HIV/SIDA ou surtos epidémicos. Os números mais recentes (que não param de aumentar a cada momento) indicam que já quase 64.500 angolanos entre os 15 e 30 anos, sobretudo, aderiram à plataforma.
É esta população cheia de vontade de participar no futuro do país que Cláudia Simão Semedo atende diariamente com uma reconhecida capacidade técnica que ganhou a pulso. “Tive muitas formações na área da saúde sexual reprodutiva e não só, e isso foi fundamental para transmitir o conhecimento a outros jovens e poder debater com eles”, assegura. Surpreendentemente, esta segurança que demonstra dia após dia exige um esforço pessoal suplementar. “Sou uma pessoa medrosa, mas prefiro esconder os meus medos”, admite.
Esta confissão contundente e muito honesta diz muito sobre a personalidade de Cláudia Simão Semedo. “Sou uma verdadeira mulher guerreira africana!”, exclama. As muitas dificuldades que sofreu ao longo da vida não lhe deixaram outra alternativa. “Eu devia ser cuidada, tratada como cristal, mas não o sou. Sofri muito por parte de familiares, amigos e colegas. A vida às vezes era difícil. Não tinha nada no bolso para suprir algumas necessidades como o táxi ou comida, mas consegui superar tudo”, relembra com orgulho. A chave para recuperar-se foi a dedicação às suas causas. “Sempre fui uma jovem disposta a trabalhar duro”.
O espírito de luta que cultiva fá-la acreditar que o trabalho no SMS Jovem na sua área de especialidade, matéria de planeamento familiar e saúde sexual e reprodutiva, transformará as gerações de jovens angolanos. Esta convicção mantém-se firme, mesmo quando a realidade à sua volta às vezes lhe prega partidas. “Muitas vezes levava a minha família a algumas palestras, aconselhava-os, mas ignoravam-me. Fiquei triste quando a irmã ‘que puxei’ ficou grávida e interrompeu os estudos. Apesar disso, a minha família acolheu-a e cuidamos do bebé”. É em momentos como estes que renova a “motivação através dos livros, da música, da arte ou das conversas com Deus”.
A conselheira do SMS Jovem reconhece que os obstáculos fazem parte do caminho e que não há que esmorecer. Depois de muitos anos de trabalho persistente, sabe que conseguiu o mais difícil – mudar a atitude entre os seus. “Na escola não tinha muito apoio por parte de colegas e professores. O mesmo acontecia no bairro onde vivo. Hoje, felizmente, já me aceitam e até elogiam muito o meu trabalho”, diz, satisfeita.
Depois de alguma resistência, também a família de Cláudia Simão Semedo sente um orgulho tremendo no seu trabalho no SMS Jovem. “No princípio, o meu pai não aceitava o que fazia, foram anos de luta constante. Também os meus irmãos me viam como a que andava à-toa’, mas hoje todos pensam de forma diferente”. Até a mãe da activista a ajuda a cumprir a sua meta. “Muitas vezes ela é quem me acorda quando tenho que ir a pé, ou quem me ajuda com as deslocações para o Call Center”, conta.
A força e determinação de Cláudia Simão Semedo é à prova de fogo e ela não vai parar por aqui. A sua missão, reforça, é que os “irmãos e os outros jovens estejam bem” e tenham a possibilidade de fazer ouvir as suas vozes. “Amanhã poderei dizer que lutei e que a oportunidade que tenho no Call Center do SMS Jovem valeu a pena!”