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Os efeitos das Alterações Climáticas nos Cuidados Neonatais no Sul de Angola

Os efeitos das Alterações Climáticas nos Cuidados Neonatais no Sul de Angola

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Os efeitos das Alterações Climáticas nos Cuidados Neonatais no Sul de Angola

calendar_today 25 April 2022

Técnicos de saúde junto de algumas participantes da formação do CONU.
Técnicos de saúde junto de algumas participantes da formação do CONU.

Os efeitos das Alterações Climáticas nos Cuidados Neonatais no Sul de Angola

O impacto das alterações climáticas e da recessão económica nas áreas afectadas pela seca no sul de Angola criaram maiores desafios para o Governo e os parceiros para o desenvolvimento na atribuição, reprogramação e utilização dos recursos para o bem-estar das populações, especialmente das mulheres e raparigas mais vulneráveis, limitando a disponibilidade e o acesso aos serviços de saúde ou favorecendo atrasos no início do tratamento e cuidados, aumentando os riscos de complicações e as taxas de mortalidade por várias causas.

Esta é uma das formas com que as alterações climáticas se relacionam com as questões de direitos humanos. Em Angola, como em muitos países afectados da região, as secas limitam a capacidade nacional de garantir os direitos de saúde sexual e reprodutiva das raparigas, adolescentes, mulheres e gestantes. A redução do acesso a serviços de saúde aumenta a possibilidade de mortes materna e neonatal e da ocorrência de gravidez precoce, devido à diminuição da cobertura dos serviços de planeamento familiar. As secas arruínam as culturas familiares e as fontes alimentares. Como as famílias estão vivendo com escassez de alimentos ou dependem da distribuição governamental de subsídios alimentares, a desnutrição aumenta, o que eleva o risco de complicações de saúde materna incluindo parto obstruído, recém-nascidos prematuros ou de baixo peso ao nascer e hemorragia pós-parto.

Preenchimento do livro de estatística de consultas pré-natal realizadas.

Em Angola, segundo o IIMS 2015-2016, a percentagem de mortes femininas associadas à gravidez entre mulheres de 15-49 anos é de 16,3%. Esta percentagem é ainda maior entre as meninas adolescentes de 15-19 anos (16,5%) e as raparigas jovens de 20-24 anos (21,2%). Para erradicar as mortes maternas e neonatais evitáveis, uma parceria entre o UNFPA, o Banco Mundial e o Governo de Angola, está a levar a cabo o " Projecto de Fortalecimento do Sistema de Saúde (PFSS) – Resposta à Saúde Sexual e Reprodutiva em Áreas de Seca no Sul de Angola".  Parte do objectivo do projecto é reforçar a resposta dos profissionais de saúde através de sessões de formação práticas e téoricas em Cuidados Obstétricos e Neonatais de Urgência (CONU). Técnicos das unidades de saúde nas províncias afectadas pela seca da Huíla, Cunene, Namibe e Cuando Cubango, juntaram-se à formação para prestar melhores serviços de saúde reprodutiva, a fim de reduzir a taxa de mortes maternas no país. A formação de 10 dias consistiu em 5 sessões teóricas e 5 sessões práticas no local de trabalho. Serviços de saúde materna melhorados são cruciais para mitigar os efeitos da seca nas comunidades locais. 

Técnicos de sáude que participaram na formação do CONU.

Na província do Cunene, que regista algumas das realidades mais desafiantes do país, foram formados 12 técnicos de saúde por município. Uma das questões importantes em que o Ministério da Saúde e o UNFPA estão a trabalhar em Angola é a necessidade da obtenção de dados actualizados de saúde, mais prontamente disponíveis, para orientar intervenções programáticas. Além disso, nas provas mais actualizadas na província do Cunene, a mortalidade neonatal foi estimada em 21 mortes por 1.000 nados-vivos e a mortalidade pós-neonatal em 20 mortes por 1.000 nados-vivos (IIMS 2015-2016).  Além disso, relativamente ao comportamento de alto risco de fecundidade, estima-se que 62% dos nascimentos nos cinco anos anteriores ao inquérito pertencem a uma categoria de alto risco evitável. Convencidos de que estes marcadores podem ser dramaticamente melhorados através de intervenções de formação, os profissionais de saúde juntaram-se entusiasticamente à formação e relataram alguns impactos-chave do trabalho do UNFPA no país.

Aula práctica de implante do Jadelle.

Durante as aulas práticas, houve palestras sobre o pacote integrado dos serviços de saúde sexual e reprodutiva como planeamento familiar, consultas pré-natal e assistência ao parto normal e complicado além de cuidados ao recém-nascido doente. Foi observado durante a formação que, enfrentando condições ambientais e económicas desafiantes na província, as mulheres estão cada vez mais a solicitar métodos de planeamento familiar à medida que os serviços de saúde melhoram, com um aumento reportado da adesão das mulheres aos métodos contraceptivos de longo prazo, tais como a Jadelle (chip) e o DIU (mola). Isto acontece numa província em que a taxa global de fecundidade, de acordo com o IIMS 2015-2016, é de 7,2 filhos por mulher, um índice enquadrado entre os mais altos do mundo.

Técnicos de saúde durante aulas prácticas do CONU.

Os casais jovens também solicitam cada vez mais serviços de planeamento familiar. Depois de ter gerado o seu primeiro filho, Olívia de 18 anos de idade e o seu parceiro decidiram que queriam continuar a estudar, para que pudessem garantir uma vida melhor para a sua família a longo prazo.  Para isso, escolheram utilizar um método de planeamento familiar de longo prazo (Jadelle) como parte dos seus cuidados de saúde. A parceria entre o UNFPA, o Banco Mundial e o Governo de Angola continua a trabalhar para garantir os direitos de saúde sexual e reprodutiva a todos nas regiões afectadas pela seca.

Olívia e esposo, aderiram ao planeamento a longo prazo, após o nascimento do seu primeiro filho.