SYP em Angola: Jovens  Mulheres Liderando Para Um Futuro Melhor

BAIRRO DA MITCHA, Lubango – “Já muitas vezes trancaram-me com a porta na cara, mas a minha vontade em poder levar o conhecimento para jovens e adolescentes de modo a evitar gravidez indesejada, não tem fim” confessou a Stela Varela, activista do CAJ (Centro de Apoio aos Jovens) e beneficiária do Programa de Salvaguarda do Jovens (SYP – sigla em inglês).

Stela Madalena Rodrigues Varela, é uma jovem de 28 anos, residente no Bairro da Micha nos arredores da cidade do Lubango, na província de Huíla. Para a Stela trabalhar com a comunidade e para a comunidade, é uma tarefa que lhe enche de orgulho, pois é uma das formas que ela encontrou para poder levar o conhecimento adquirido ao longo dos 7 anos de associativismo e activismo.

Activismo

Stela trabalha como activista no bairro onde mora, ela confessa que a maior dificuldade que enfrenta, tem muito a ver com a falta de diálogo entre as mulheres, pois já enfrentou diversas situações caricatas, muitas vezes foram fechadas portas na cara, sempre que fosse sensibilizar as pessoas e partilhar todo o seu aprendizado. As mães recusam-se em poder deixar as filhas adolescentes tomarem contacto com as palestras. Para Stela, a pouca informação e escolaridade pode ser a base que limita os pais falarem abertamente com os filhos adolescentes sobre a saúde sexual e reprodutiva. “Eu não vou desistir das meninas, fazer com que as meninas participem nas minhas palestras, é o meu maior desafio”. Assuntos ligados às gravidezes nas adolescências continuam a ser um tabu e motivo de silêncio entre as famílias que ela vai abordando no bairro da Mitcha. 

O trabalho com o SYP

Através do SYP, a Stela trabalha com bancadas montadas nas escolas e monitoradas pelo UNFPA, com meninas entre os 11 e 23 anos de idade. O programa foi elaborado para atender às necessidades de saúde e direitos sexuais e reprodutivos de adolescentes e jovens.O SYP tem como objectivo, capacitar adolescentes e jovens para permitir que tenham uma vida saudável, a protegerem-se das ITSs (incluindo o VIH), gravidez indesejada, abortos inseguros, casamentos precoces, violencia baseada no genero e práticas culturais prejudiciais.O SYP pretende simultaneamente promover a inclusão, normas de igualdade de género e comportamentos de proteção.

“O meu maior sonho como activista, é poder ver estas meninas com as quais trabalho hoje, terem um futuro melhor. Se formaram, terem uma boa formação académica, casarem e constituírem os seus lares”. 

A taxa de fecundidade de adolescentes em Angola está entre as mais altas da região, com uma taxa de prevalência de contraceptivos em 14% e a necessidade não atendida de planeamento familiar entre meninas de 15 a 19 anos em 43%. Os fatores subjacentes incluem conhecimento limitado de planeamento familiar, disponibilidade inadequada de produtos básicos, acesso limitado a profissionais de saúde qualificados e recursos domésticos insuficientes alocados para a Saúde Sexual e Reprodutiva e Direitos. A alta taxa de gravidez na adolescência aumenta a vulnerabilidade já existente das meninas, pois a gravidez é muitas vezes um impedimento à educação continuada, exemplificado pelas baixas taxas de alfabetização, de apenas 36,5%, para mulheres jovens de 15 a 24 anos. O país conta com 10 milhões de meninas e mulheres em idade reprodutiva; embora 75% das meninas frequentem o ensino primário, esta proporção baixa para cerca de 15,5% no ensino secundário, o que coincide com a idade da primeira menstruação. Altas taxas de fecundidade e altos níveis de gravidez na adolescência também aumentam o risco de mortalidade materna.O programa SYP em Angola alcançará 60.000 jovens com treinamento em saúde sexual e reprodutiva, resiliência ao trauma, habilidades de trabalho, ao mesmo tempo em que se envolve com um ambiente propício, fortalecendo postos médicos e treinamento de profissionais de saúde.