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UNFPA reforça Dia Internacional da Menina com os olhos no mundo digital

 

As possibilidades das novas tecnologias no empoderamento das jovens de todo o mundo estiveram no centro do Dia Internacional da Menina, que o Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA) celebrou a 11 de Outubro passado. “Geração Digital. Nossa Geração”, o lema deste ano, é também uma das máximas que rege a vida de quatro angolanas que, no Conselho de Igrejas Cristãs em Angola (CICA), aprenderam que os sonhos não têm limites.


Laurinda Santos, Directora geral da Juventude CICA

Desde criança, Laurinda Santos sonhou em ajudar os outros, incitando-os a ser melhores. “Sempre digo às pessoas: se querem luz na vossa vida, têm que se levantar para acender a lâmpada; se querem ver mudanças, têm que se levantar e ser a mudança que querem ver”, conta a jovem de 30 anos, Directora-Geral da Juventude do CICA. Em oito anos de trabalho na instituição, conheceu “milhares de meninas” perdidas em si mesmas. “A baixa auto-estima de muitas raparigas em Angola fazem-nas esconder-se do mundo para não mostrarem as habilidades que têm e o quão grandes e sonhadoras são. Há muitas meninas que vivem dentro de uma caixa, e infelizmente não é uma caixa de sonhos, mas sim de problemas”, ilustra.

Não há uma fórmula mágica para despertá-las da letargia, mas a psicóloga clínica concorda com o UNFPA, que “o mundo digital pode ser uma oportunidade de ouro” nesta missão de empoderamento e luta pela igualdade de género. “O digital pode-lhes mudar a vida! Todas as raparigas têm a tendência de recorrer a este tipo de plataformas para saber o que acontece e para definirem os seus objectivos. Podemos aproveitar de forma bastante positiva o digital para transmitir informações e actividades que visam o desenvolvimento do pleno potencial de cada rapariga. Dessa forma, podemos resgatar-lhes os sonhos e a auto-estima”.

Fernanda Henriques é um bom exemplo destes sonhos em grande. A jovem de 18 anos, estudante do último ano do curso médio de Química Industrial no Macarenco, quer ser uma grande empreendedora, aproveitando a experiência que já tem, e que reforçará quando terminar o curso de Marketing Digital e Costura que frequenta no CICA. “Eu vendo artigos femininos, roupas, calçados e acessórios. O meu negócio não é totalmente digital, mas aproveito esse meio para fazer o marketing. Acho que a forma mais eficaz de divulgarmos o nosso trabalho é nas redes sociais, porque todo o mundo está lá”.


"Podemos e conseguimos fazer tudo o que sonhamos e temos Direito."
Fernanda Henriques

Empoderada, Fernanda Henriques sabe bem o que quer e para aonde vai, mas diariamente aprende que, muitas vezes, o caminho é solitário. “A minha vida fora do CICA é uma luta, enfrento as pessoas que ainda não aprenderam sobre a igualdade de género”. Peremptória, avisa: “Não podemos colocar a mulher numa gaveta e dizer: ‘você só pode chegar até aqui e só pode fazer isso, porque é mulher’. Nós, mulheres, temos valor, os nossos direitos têm que ser reconhecidos e há que ter a consciência de que várias pessoas lutaram antes de nós, pelo que acreditamos. Isso significa que temos que continuar a exigir os nossos direitos. Este é o significado do Dia Internacional da Menina”.

Num contexto mais amplo, Fernanda Henriques gostaria de contar com “uma rede de apoio a nível africano para priorizar a capacitação das mulheres em empreendedorismo”. Não está sozinha neste sonho. Também Marina dos Santos, colega no curso de Marketing Digital e Costura do CICA, acredita que o segredo da integração “é a capacidade das mulheres se juntarem e debateram sobre o que gostariam de fazer das suas vidas”. “É importante conhecermos as experiências umas das outras e, depois, criar uma rede que nos ajude a abrir um negócio, fazer um curso, a crescer não só profissionalmente, mas também física e mentalmente”, defende. “Muitas mulheres têm ideias que não têm coragem de expressar, mas temos que aprender que quando falamos, ganhamos conhecimento e ampliamos a mente”, diz a estudante de enfermagem de 24 anos.


Marina dos Santos, Abigaíl Caculo, Laurinda Santos e Fernanda Henriques

Também neste caminho de “soltar as ideias”, o mundo digital pode ser fundamental, concorda a jovem de 17 anos, Abigail Calulo. Mas “há que ter cuidados”. “A internet trouxe-me muitos problemas, afectou a minha saúde mental de uma maneira surpreendente”, confessa a estudante de enfermagem do Cassenda, em Luanda. Com a ajuda de psicólogos conseguiu superar as dificuldades, ao ponto de considerar um futuro negócio digital na área de “empreendedorismo humanitário” focado nas crianças. Preparar-se é fundamental, avisa. “Se eu tivesse tido os instrumentos necessários para entender o mundo digital antes de entrar nele, talvez não tivesse tido um impacto negativo. Na verdade, com a internet tenho soluções que talvez não teria de outra forma. O importante é identificar o mau uso que as pessoas fazem desta ferramenta”, considera a jovem, frequentadora assídua das acções de capacitação do CICA.